Rui Barbosa e a vergonha de ser honesto
Outro dia estava no Orkut, no fórum de uma comunidade, quando li o desabafo de um internauta, indignado com os rumos do Brasil. Depois de citar vários crimes cujos autores ficaram (ou ficarão) impunes, indo de fraudes na Previdência até o recente assassinato do menino João Hélio, ele disse o seguinte:
"Errado sou eu que acordo às 04:30 da manhã para ir trabalhar, pago IPTU, CPMF, IPVA e outras merdas por aí. Bem feito pra mim, quem mandou eu ser honesto."Imediatamente me lembrei de uma famosa citação de Rui Barbosa (1849-1923). Eu não tinha maiores informações sobre o contexto no qual a frase foi proferida, mas as palavras do imortal (ele presidiu a Academia Brasileira de Letras) foram estas:
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."Resolvi pesquisar na Internet e encontrei a Fundação Casa de Rui Barbosa, que possui vários textos completos do autor, disponíveis online. Lá, encontrei a transcrição do texto em questão, incluindo os apartes dos outros senadores, os gritos de "muito bem!" e os comentários da mesa diretora. Eis aqui o texto integral:
Rui Barbosa fez este desabafo em 17 de dezembro de 1914, ao defender seu Requerimento de Informações sobre o Caso Satélite. O Caso Satélite, segundo palavras do próprio senador, foi uma chacina de presos. A impunidade dos assassinos confessos, depois de quase 4 anos decorridos do crime, foi o que motivou Rui Barbosa a fazer o Requerimento. Eis uma descrição do fato e o motivo da solicitação de informações:
"Oito ou dez assassínios, praticados gratuitamente, estupidamente, covardemente, barbaramente, contra oito ou dez homens inermes, no convés de um navio mercante, durante uma expedição armada pelo próprio Governo, pelo agente da força pública a quem o Governo entregou a guarda, a segurança e a conservação desses mesmos homens.A seguir ele comenta que há um fato novo: um dos "assassinos confessos" alegou ser inocente e solicitou a instauração de um inquérito -- exatamente o que Rui Barbosa estava pedindo. Antes do desabafo anteriormente citado, ele diz:
Se, portanto, o Governo não queria o crime, se o Governo não é quem tinha autorizado esse crime, se o Governo sentia diante desse crime a repulsão que todos sentiram, não era lícito a esse Governo hesitar um só momento, em instaurar processo ao criminoso."
"Se o Tenente Melo pede o Conselho de Guerra é porque tem consciência de possuir elementos com os quais julga poder estabelecer a sua defesa.A Chacina do Satélite ocorreu em 1914. Quase um século se passou e a impunidade no Brasil continua a mesma.
Ignoro qual seja, mas o que o público inteiro acredita e o que é lógico em face dessas circunstância, lógico, de uma lógica irresistível, é que o que se receia é a defesa do Tenente Melo, que o que se teme é que aquela boca se abra, é que aquele acusado se defenda. E se isso é o que se teme, é porque há grandes criminosos, criminosos maiores, cuja responsabilidade há grandes interessados em salvar."
Comentários
pelo comentário muito bem situado, pela lembrança de um gigantesco homem público. E pela lembrança oportuna neste tópico
Li seu comentario no post do linux-br, tais vendendo o mesmo o AIMA? Eu me interesso, mas como sou estudante nao da para comprar um novo... mas usado é sempre uma alternativa :-) Como podemos negociar ?
Como uma pessoa fica rica no Brasil?
R.: política.
Ou você torna-se político, ou fica amigo de político.
Emqualquer das duas opções tanto faz a sua profissão/formação. Estando perto ou dentro da política é um caminho certo do dinheiro.
E a gente ainda tem a cara de pau de reclamar da corrupção no governo.
P.S. (é lindo e ao mesmo tempo triste que o lendário rui barbosa já havia percebido isso, há muito tempo atrás)
pesquise no google com os termos "política do encilhamento" e descubra por si mesmo do que estou falando.
1º) É uma falácia "ad hominem"; ao invés de atacar o argumento, se ataca o homem. É atacar a mensagem ao invés do mensageiro. Pergunto: a frase famosa fica INCORRETA se Rui Barbosa tiver sido desonesto?
2º) Pesquisei sobre o assunto e não vi consenso: há quem ache que ele foi apenas desastrado (ou ingênuo) ao criar o "encilhamento". Não parece haver provas de que ele também tenha lucrado com o golpe no mercado financeiro que ocorreu na época.
E interessante de ver que R. Barbosa da a pensar no Brasil agora. Bom-dia de um franco-brasileiro
http://minhasartesrubensparizio.blogspot.com/
com carinho
Hana
Postei este seu texto numa lista de que participo e ele foi questionado, qto à vercidade do fatos referentes a Rui Barbosa e o caso da Chacina do Satélite. Fui verificar suas fontes (Casa Rui Barbosa) e nada encontrei, como tb não encontrei nada em canto nenhum onde pesquesei. Pode por favor, me remeter à fonte onde possa obter essas informações?
Grata
fatima
Como comentaristas e também debatedores, todos até agora tem demonstrado muita inteligência, e eu vos parabenizo por isso.
Mas, agora quero manifestar a minha opinião:
É muito difícil conhecer-se uma verdade cabal, ainda mais, tratando-se de assuntos polêmicos e ora jacentes no túmulo do tempo. São fatos ocorridos há cerca de um século. Vemos que até hoje, apesar da vastidão de informações da qual dispomos, muitos casos de corrupção ainda não são elucidados, e quando já são considerados como encerrados e sentenciados, ainda são dignos de contestação.
Todas as informações que conseguíssemos hoje, compilando os mais consagrados textos, ainda seriam insuficientes na busca desta verdade, porquanto os jornais e livros da época, nunca foram totalmente imparciais. E nunca serão.
Todo livro, jornal, radio, televisão, internet ou qualquer outro meio de comunicação tem sua parcialidade, e isto ocorre porque há uma infinita diversidade de ideias e pontos de vista.
Quero terminar, expondo um apotegma:
“NA POLÍTICA NINGUÉM É COMPLETAMENTE VERDADEIRO, MAS, TAMBÉM NINGUÉM É TOTALMENTE MENTIROSO”.
Sei que foi político, sei que foi advogado de sucesso.
Se pensarmos hoje em advogados de sucesso, de renome nacional, veremos alguns que ficaram ricos e que não podem ser alcunhados de desonestos.
Então, considerada a capacidade de Rui Barbosa, até prova cabal em contrário, prefiro crer na sua honestidade.
Leitores amigos, os que tiverem e-mails ou contatos com políticos, que se dizem "brasileiros", trnascrevam para eles. A fim de sentirem envergonhados.
Sebastião Costa de Souza
souzasebastiao@rocketmail.com
12 de abril de 2017
Este é o texto completo das famosas considerações de Rui Barbosa sobre a crise moral, que, infelizmente, não é apresentado ao público. Pelas palavras de Rui Barbosa, fica bem claro que a ruína moral do Brasil começou com a proclamação da república. É só ler o texto para conferir.
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...”.
Essa foi a obra da República nos últimos anos.
No outro regime (monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre - as carreiras políticas lhe estavam fechadas.
Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais.
Na República os tarados são os taludos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando.
Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.
E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, Senhores, é a ruína da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante dos nossos Governos. E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem..."
(Rui Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas - Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)